A morte por suicídio é uma emergência médica e pode ser impedida por meio de tratamento adequado do transtorno mental de base

Por Isis Moretti

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio, tendo a OMS – Organização Mundial da Saúde – junto com a IASP – International Association for Suicide Prevention – estabelecido o dia 10, como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a campanha é promovida desde 2014 pela ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria – em parceria com o Conselho Federal de Medicina. Em 2021 traz o tema “Agir Salva Vidas”.

 De acordo com a ABP, os casos de suicídios no Brasil passam de 13 mil por ano e, segundo dados da OMS, estima-se que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. No que se refere a tentativas, uma pessoa atenta contra a própria vida a cada três segundos. Em termos numéricos, calcula-se que aproximadamente 1 milhão de casos de óbitos por suicídios são registrados por ano em todo o mundo.

“A campanha busca sensibilizar o público sobre o tema e quebrar o tabu para que as pessoas em risco de suicídio procurem e encontrem ajuda”, declara o psicólogo Cesar dos Santos Silva Braz. “Existe um mito terrível que diz que o indivíduo com intenção de tirar a própria vida não avisa e, tampouco, fala a respeito. Isso é mentira! Precisamos considerar seriamente todos os sinais de alerta e, o papel da família e amigos é reconhecê-los e encaminhar a pessoa à um profissional de saúde mental”, completa.

O que leva ao suicídio?

De acordo com Braz, é possível perceber que a pessoa que atenta a própria vida possui uma mescla de propensão biológica e genética, com fatores psicológicos sociais. Pesquisas apontam para algumas vulnerabilidades, como não se sentir pertencente a nenhum grupo, viver em ambientes inválidos, sentimentos de não merecer estar vivo, acreditar ser um problema para os outros, além da dificuldade de lidar com as frustrações.

Mais de 90% das tentativas de suicídio acontecem durante um transtorno psicológico, porém, o risco também pode existir em pessoas não diagnosticadas. “Os transtornos mais comuns são: depressão, transtorno afetivo bipolar, dependência química, esquizofrenia, transtornos de personalidade, transtorno de estresse pós-traumático, anorexia nervosa, transtornos de ansiedade generalizada e fobia social”, explicou o psicólogo, afirmando que o diagnóstico precoce e correto, com medidas e tratamento adequado previnem comportamentos suicidas.

Os sinais de alertar emitidos por um possível suicida  

Braz salienta que os sinais de alerta não podem ser isoladamente considerados, pois não existe uma receita para detectar uma crise suicida, mas uma pessoa em sofrimento pode dar sinais e deve-se prestar atenção, sendo alguns:

  • Falta de vontade de fazer algo que antes era prazeroso;
  • Sinais de automutilação ou outra autoagressão, sendo comum a mudança de vestuário para esconder as lesões;
  • Piora acentuada no rendimento no trabalho ou nos estudos;
  • Isolamento social, diminuição da interação nas redes sociais, parar de atender telefonemas;
  • Oscilações de humor com mais frequência, problemas de conduta;
  • Suspeita de uso de drogas ou de mudança de comportamento em relação ao álcool;
  • Mudança nos hábitos de sono ou alimentação;
  • Falas, escritas ou desenhos que expressam sentimentos de desesperança diante de situações problemáticas, culpa, falta de autoestima, visão negativa da vida e do futuro;
  • Preocupação exagerada com a própria morte;
  • Falas indiretas como: “vou desaparecer”, “queria poder dormir e nunca mais acordar”, “minha vida não vale a pena”, “vocês estariam melhor sem mim”, “eu sou um fardo para todos”;
  • Mudança nos hábitos de higiene e falta de autocuidados;
  • E diante de alguns desses sinais, organizar uma festa, vender ou doar seus bens, ou então de uma hora para outra se mostrar mais calmo, em paz, alegre como se tivesse encontrado uma solução.

Como ajudar?

Há orientações muito simples que qualquer pessoa pode seguir, e são orientações efetivas:

  • Incentivar a pessoa a procurar ajuda de profissionais, pois na maioria dos casos há um transtorno que precisa ser tratado. Se possível, oferecer companhia neste atendimento;
  • Encontrar um lugar tranquilo e um momento apropriado para falar sobre suicídio com essa pessoa. É bom para ela saber que existe alguém em que pode confiar. Evite frases clichês como: “tudo vai ficar bem” ou “pense positivo”.

Ouça com a mente aberta, com atenção, mostre que entende seus sentimentos e ofereça apoio sem julgamentos, críticas ou comparações. Ao falar sobre o suicídio, é possível descobrir como ajudar a suportar os sentimentos e incentivar melhor a procura por apoio profissional;

  • Caso tenha impressão de que essa pessoa está em perigo iminente, não a deixar sozinha. É preciso procurar o serviço de emergência e entrar em contato com alguém de confiança indicado pela própria pessoa;
  • Caso seja familiar, é importante limitar o acesso da pessoa a meios para provocar a própria morte, como armas de fogo, objetos cortantes, medicações, venenos, cordas etc.;
  •  Ter uma crença e pertencer a grupos, participar de atividades religiosas protege contra o suicídio.

Ao contrário do que se pensa, perguntar sobre suicídio não induz a pensamentos suicidas. Pelo contrário, ajuda a aliviar a angústia, ansiedade etc. Essas ações são fundamentais até a pessoa ter acesso a um profissional de saúde.