Apesar dos obstáculos e barreiras estruturais, mulheres relatam suas experiências para assumir o protagonismo no mercado de trabalho e na maternidade

Ao longo dos anos, as mulheres foram conquistando o seu espaço no mercado de trabalho e cada vez mais mostrando força e perseverança. Porém, diferentemente dos homens, as pessoas do sexo feminino ainda enfrentam alguns desafios e pressões sociais que fazem com que elas se cobrem excessivamente, principalmente quando o assunto é conciliar a maternidade e o trabalho. E essa pressão se torna ainda maior por muitas mulheres serem chefes de família.

Inúmeras são as pesquisas que comprovam o esforço das mulheres diante do impacto do acúmulo de tarefas. Em 2019, uma pesquisa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – mostrou que as mulheres se dedicaram mais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos do que homens. Foram 21,4 horas semanais feitas pelas mulheres contra 11 horas semanais feitas pelos homens.

Estes números reforçam outra tendência comum ao universo maternal: 30% das mulheres já renunciaram seus empregos após se tornarem mães, número superior quatro vezes ao de pais. Dessas, apenas 8% conseguiram voltar ao mercado de trabalho em menos de seis meses (contra um índice de 33% para os homens), apontou pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Catho, em 2018. Como alternativa, muitas vezes de sustento e renda extra, elas dominam o chamado “empreendedorismo feminino” onde o Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras – mais de 24 milhões, apontou um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado com 49 nações.

Embora a consciência sobre esse assunto tenha evoluído nos últimos anos, ainda há um longo caminho a ser percorrido. E por isso é tão importante trazer esse tema à tona para levantar discussões e reflexões para garantir às mulheres o apoio necessário para superar os desafios da relação entre a maternidade e a vida profissional. Alguns sentimentos como culpa e insegurança costumam fazer parte da rotina das mães que retomam a carreira após o fim da licença-maternidade.

Por mais desafiador que seja, voltar ao trabalho é um passo importante, pois a valorização profissional contribui para aumentar a autoestima da mulher. Para dividir suas experiências, convidamos mulheres que cumprem, com louvor, seus melhores papeis.

Tânia Lourenço, proprietária da Hagio Consultoria e Assessoria Contábil, “Trabalhar, estudar e ser mãe ao mesmo tempo é muito difícil de conciliar. Em algum momento, algo é negligenciado, mesmo que tentamos sempre fazer o melhor não dá para abraçar tudo, por isso, muitas vezes ainda me sinto culpada pelas minhas escolhas. É utópico dizer que existe uma receita, pois cada mãe (assim como o seu trabalho) é único, mas cabe a cada uma respeitar suas limitações para trazer um pouco mais de leveza na rotina”.

Aparecida Mendes, advogada da Advocacia Mendes, “Tive a sorte de contar com uma rede de apoio para me auxiliar nas tarefas e, mesmo assim, estar presente em todos os momentos não era fácil, pois muitas vezes saía tarde do trabalho. Hoje, ao olhar meu filho formado, me faz entender que tudo valeu a pena e que é possível conciliar maternidade e trabalho: o segredo está em saber dosar muito bem o tempo. Por isso sou favorável àquelas que buscam empreender, por exemplo, para equilibrar as funções.”

Eloisa Alves de Souza, diretora pedagógica do Colégio Almirante Monteiro, “Tive o privilégio de trabalhar meio período enquanto meus três filhos eram pequenos para estar mais perto deles e, mesmo assim, a correria da rotina sempre foi intensa. Acredito ter conseguido administrar muito bem o tempo com eles, e este é o maior desafio de quem acumula dupla jornada de trabalho: adequar o tempo com os filhos para que seja sempre de qualidade”.

Lindalva Ramos dos Santos, orientadora da Tupperware Distribuição Dinâmica, “Com muito amor, consegui cuidar dos meus três filhos pequenos e ser empreendedora. A necessidade de dar uma vida melhor a eles foi a motivação necessária para o meu negócio fluir. Para isso, foi fundamental dividir, de forma saudável, meu tempo com eles e com o trabalho, e acredito que este é o segredo: mesmo que o tempo seja menor, que seja de qualidade. Foi assim comigo. E hoje tenho muito orgulho das pessoas que se tornaram.”

Bruna Drago Alonso – sócia-proprietária da Odonto Company Diadema, “Empreender exige muita dedicação, mas por outro lado proporciona uma flexibilização melhor de horários para acompanhar a rotina da minha filha. Ser feliz e realizada como mulher, me faz ser uma mãe melhor. A carga ainda é pesada para as mulheres, mas eu tenho o privilégio de ter um marido muito parceiro em minha vida, e sei que isso é a realidade de poucas”.

Vilma Maria Paschini Michels, proprietária da BLV Participações e Empreendimentos Imobiliários, “Várias mulheres se sentem culpadas por trabalhar, e comigo não foi diferente. Perdi algumas atividades importantes na escola dos meus dois filhos, mas não faria nada de diferente, já que foi por meio do meu esforço e suor que pude dar uma vida melhor à eles. Por isso, meu conselho às mulheres é sempre que estiverem com seus filhos, fazer desses momentos serem únicos e de muita qualidade”.

Vera Lucia Rocha, ex-presidente da ACE Diadema e proprietário do Restaurante A Candeia, “Fui pai e mãe dos meus cinco filhos e isso tornou o caminho um pouco mais difícil, mas hoje, ao olhar os homens e mulheres que se tornaram, faria tudo de novo. Tenho muito orgulho deles. Fiz o melhor que pude, dediquei-me totalmente para oferecer, acima de tudo, uma base educacional sólida. E isso é o que me motivava a sair de casa todos os dias: dar o melhor a eles. Por isso, não sofro com culpa. Tudo valeu a pena.”