Coach de carreira e desenvolvimento de competências gerenciais, Maiza Ribeiro rebate preconceitos e explica a importância da inclusão social nas organizações

Por Jones Araújo

Se engana quem pensa que o mercado de trabalho termina para todas as pessoas que já passaram dos 50 anos, e o que resta para essa parcela da população é aproveitar a aposentadoria, o tempo livre, além de viver da poupança acumulada ao longo da vida. Em um país como o Brasil, onde a longevidade tem crescido, os seniores devem ocupar cada vez mais os cargos das empresas nos próximos anos, em diversas áreas profissionais.

Segundo a Forbes, em 2050, o Brasil será o sexto país mais velho do mundo, à frente de todas as outras nações em desenvolvimento. Isso porque a população acima dos 50 anos já ultrapassa a marca de 50 milhões e, nas próximas duas décadas, a estimativa é de que mais da metade da força de trabalho brasileira seja composta por pessoas com 45 anos ou mais.
O fato é, que de um lado, as empresas têm criado programas de contratação desse público com o intuito de manter o ambiente coorporativo mais diversificado, mas por outra linha, também há alguns obstáculos que perseguem os seniores, como por exemplo, o preconceito que paira no imaginário dos chefes de RH, que em alguns casos evitam contratar profissionais nessa faixa etária. Eles acreditam que os mais velhos possuem experiência demais para um determinado cargo, ou pensam que esses profissionais não irão se adequar com o avanço da tecnologia.
Além disso, a maioria das vagas de emprego no país é, ainda, definida preferencialmente para os jovens. Ou seja, empregar pessoas com mais de 55 anos fica restrito para algumas posições de alta gestão.

“Se as empresas não começarem a trabalhar, de hoje, a cultura de receber e entender que as pessoas acima de 50 anos são produtivas, no futuro, o público ativo para o trabalho será pequeno. Este é um processo irreversível, até mesmo se levarmos em consideração que, até 2040, 57% da força de trabalho no Brasil terá em média 45 anos de idade”, afirma a coach de carreira e desenvolvimento de competências gerenciais e sócia da Damicos Consultoria, Maiza Ribeiro.

Inclusão social nas empresas

Para a especialista, de 75 anos, ainda que seja um movimento lento, a questão da diversidade etária já começou a integrar a pauta de discussão dos gestores. Ela diz que em algum momento, as empresas terão de olhar para essa questão e fazer ações efetivas para inclusão desses profissionais nas organizações.
“Ainda faltam políticas públicas, legislação e práticas de gestão nas organizações que demonstram priorizar e valorizar a geração 50+, incluindo visão de valor pelas inestimáveis competências e possibilidades para a competitividade do negócio e o desenvolvimento do país”, fala.

Tecnologia

Há quem imagina que a tecnologia pode ser um obstáculo para o sênior em uma empresa. A especialista rebate e ressalta que os profissionais acima de 50 anos têm demonstrado cada vez mais interesse em incorporar ferramentas digitais em seu cotidiano. Tanto aqueles trabalhadores que possuem uma sofisticada qualificação profissional, quanto aqueles com menor nível de qualificação tecnológica, segundo ela.

“Também existem muitas oportunidades, principalmente para os que estão preparados para usar ferramentas tecnológicas de suporte. O fundamental é a disposição para aprender”, reitera.

Vantagens de ter pessoas idosas no quadro de funcionários

Entre as vantagens de em se ter pessoas idosas no quadro de funcionários, Maiza destaca: a experiência acumulada e o conhecimento útil para o dia a dia, sentido de ética e compromisso, baixo absenteísmo por motivos evitáveis, maior lealdade e confiabilidade, organização, cooperatividade, qualidade do trabalho, pensamentos e pontos de vista diversos.

Assim como também facilidade em disseminar a cultura organizacional para os profissionais mais jovens e maior estabilidade no emprego. “Isso falando de emprego, mas o mercado de trabalho é muito mais do que a CLT. E nesse sentido, eu vejo muito mais oportunidades hoje em dia para os 50+ atuando como autônomos, consultores, freelancers e empreendedores”, pontua.

Retorno para o mercado de trabalho

A coach de carreira e desenvolvimento de competências gerenciais também dá dicas para as pessoas que querem retornar ao mercado de trabalho. Segundo ela, é importante realizar um bom planejamento, ter iniciativa em buscar oportunidades para ampliação de competências alinhadas às diversas fases da carreira e se preparar.

“Elaborar currículo, identificar oportunidades no mercado alinhadas com seu perfil profissional e participar de entrevistas, é condição essencial para iniciar um processo de inserção no mercado. É importante que os profissionais acima de 50 anos que não conseguiram recolocação nas posições desempenhadas antes, se preparem, busquem uma saída a partir de oportunidades como economia compartilhada, autônomos, profissionais liberais, entre outras possibilidades nessa fase da vida”, orienta.

Por fim, Maiza chama atenção para a importância de se reinventar. “Devem manter networking ativo, ter algum conhecimento de marketing social e redes sociais. Eles devem saber utilizar o necessário para se comunicar com o mercado através da realização de videoconferência, criar o Instagram, participar do Facebook e criar grupos para atrair clientes, além de usar corretamente os aplicativos e receber um PIX”, finaliza.